segunda-feira, 6 de agosto de 2012

MORS SOLA

Não mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou, não o separe o homem. S. Mateus 19:6.

Nesta primavera, enquanto escrevo, num arbusto junto à janela da sala de jantar, em nossa casa, um casal de pássaros construiu um ninho. De dentro de casa acompanhamos as actividades do macho e da fêmea, primeiramente construindo um abrigo para depositarem os ovos, e depois criando os seus filhotes. Quando nos aproximamos, percebemos a irritação da mãe e a sua disposição de sacrificar até a própria vida em defesa do ninho e da sua prole. Estamos nós, igualmente, dispostos a defender a Instituição da Família, criada no Éden por Deus, com a mesma determinação?
A data que hoje transcorre, - 3 de Fevereiro - tem para minha esposa e eu um significado especial. Neste dia de 1990, celebramos 42 anos de experiência conjugal. E somos imensamente gratos a Deus pela Instituição da Família e pelas lutas e triunfos alcançados durante estes anos. Quantas coisas aprendemos um do outro ao longo deste período! Um tímido afecto inicial, com o transcurso do tempo transformou-se num sólido relacionamento de amor.
Guardo ainda vívida na memória a lembrança do momento quando, vivendo grandes emoções, comparecemos diante do altar para receber a bênção divina sobre a nossa união. Assumíamos, então, diante de Deus e de muitas testemunhas, a solene decisão de palmilhar juntos a acidentada estrada da vida, partilhando nossos sonhos e aspirações. Tudo o que pertencia à minha esposa passou a pertencer-me também, e vice-versa. Até os anseios do seu coração passaram a ser meus também. E nestes 42 anos de convivência matrimonial, temos desfrutado uma felicidade irradiante, que afecta cada aspecto da nossa vida.
Enquanto ministrava a cerimónia do nosso matrimónio, disse o ministro oficiante: "Não penseis, nesta hora de sonhos e encantos, somente nas alegrias e ilusões da vida que hoje juntos iniciais; pensai também nas lutas, deveres e responsabilidades, que implica a experiência matrimonial. Crede, porém, que Deus vosso Pai vos ajudará, para que sejais vitoriosos em tudo." Foram tão certas, as palavras do pastor! "Lutas, deveres e responsabilidades," mas o Senhor esteve connosco durante estes quantenta e dois anos.
Quando João Vasa foi condenado à prisão perpétua pelo rei da Suécia, a sua esposa rogou ao rei que a deixasse partilhar com o esposo a sua sorte. "Impossível", disse-lhe o rei. Então, a valorosa esposa tirou do dedo a aliança e mostrou ao rei as palavras gravadas: Mors Sola - unicamente a morte. Tocado por tal lealdade, o rei permitiu-lhe que acompanhasse o esposo no seu infortúnio.
Mors Sola, eis o lema que deveria inspirar-nos na preservação dos vínculos indissolúveis do casamento.

Enoch de Oliveira in Cada Dia com Deus